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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

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Resenha: A cidade do sol

Autor: Khaled Hosseini
Editora: Nova Fronteira
Comprar: Cultura / Submarino
Classificação:
"Acha que ele liga para você, que vai querê-la em sua casa? Acha que ele a considera sua filha? Que vai levar você até lá? Ouça bem o que vou lhe dizer. O coração de um homem é uma coisa muito, muito perversa, Mariam. Não é como o útero de uma mãe. Ele não sangra, não se estica todo para recebê-la. Sou a única pessoa que a ama. Sou tudo o que você tem no mundo, Mariam, e, quando eu tiver ido embora, não terá mais nada."


A cidade do sol já era uma leitura que queria fazer há muito tempo, desde que li o primeiro livro do autor, O caçador de pipas e, indubitavelmente, foi uma das melhores leituras que fiz nos últimos tempos. O livro A cidade do sol é uma história extremamente emocionante e, ao mesmo tempo, instrutiva, pois através da história das personagens principais, Mariam e Laila, vai-se traçando para o leitor um panorama hitórico do Afeganistão desde os anos 70 até o início do século XXI. O livro tem as suas mais de 360 páginas divididas em quatro partes dispostas através de cinquenta e um capítulos, nos quais duas histórias vão sendo contadas. Essas duas histórias já chamam atenção, pois dizem respeito a duas mulheres que viveram em um país e num tempo no qual a mulher era total e completamente desprovida de direitos e onde sua vida era decidida e definida do início ao fim pela figura do homem.
"Aprenda isso de uma vez por todas, filha: assim como uma bússula precisa apontar para o norte, assim também o dedo acusador de um homem sempre encontra uma mulher a sua frente. Sempre."


A primeira parte do livro conta a história de Mariam, que nasceu em 1959, em Herat, uma das maiores cidades do Afeganistão. Porém, ela é fruto de um adultério e, portanto, ela era uma harami, resultado de uma relação ilegítima. A família de sua mãe, ao saber da gravidez, foi embora, deixando-a sozinha. Ela passou, então, a morar em uma casa de tijolo com barro e palha, a qual foi construída por Jalil, pai de Mariam, o qual a visitava uma vez por semana e recebia o amor puro e intenso da garota e críticas silenciosas de Nana, mãe de Mariam, as quais, após a saída de Jalil, viravam gritos esbravejados, através dos quais Nana tentava mostrar a filha que, na verdade, aquele que a visitava a havia abandonado.

No seu aniversário de 15 anos, Mariam pede ao pai de presente que ele a leve ao cinema juntamente com seus irmãos para que ela os conhecesse e ele se compromete a fazer isso, contudo, no dia combinado, Jalil Khan não aparece. Mariam resolve, então, ir atrás dele em Herat, mesmo sabendo que Nana desaprovaria sua decisão e, ao chegar na casa do pai, não é recebida por ninguém. Ela percebe que ele está em casa, ela o vê e vê que ele não vem recebê-la. Dorme a noite inteira na calçada em frente a casa dele e, pela manhã, o motorista a leva para casa. Quando chegam lá, eis que Mariam se depara com a imagem de Nana morta, tendo cometido suicídio.

A partir de então, conforme a mãe de Mariam havia previsto, a sua filha estava só. Ela foi recebida na casa de Jalil e, no entanto, quando menos esperava ,a proposta do pai, da qual ela foi avisada por uma de suas esposas, era a de que Mariam iria ser dada em casamento a um homem que residia em Cabul. E, mesmo contra a sua vontade, realiza-se o casamento e Mariam, aos 15 anos de idade, torna-se esposa de Rashid.

Na segunda parte do livro, vai ser contada a história de outra mulher, Laila, que nasceu em 1978, 19 anos após Mariam, época em que os soviéticos já haviam invadido o Afeganistão. Laila era uma filha bem criada. Seu pai era professor e sua mãe detentora de muita força, ao contrário do pai, o qual era o intelectual. Ele sempre dizia que a filha poderia ser o que quisesse, que tinha a intenção de que ela estudasse, se formasse, para depois pensar em casar-se.

" 'Sei que você ainda é pequena, mas quero que ouça bem o que vou lhe dizer e entenda isso desde já', disse ele. 'O casamento pode esperar; a educação, não. Você é uma menina inteligentíssima. É mesmo, de verdade. Vai poder ser o que quiser, Laila, sei disso. E também sei que, quando esta guerra terminar, o Afeganistão vai precisar de você tanto quanto de seus homens, talvez até mais. Porque uma sociedade não tem qualquer chance de sucesso se as suas mulheres não forem instruídas, Laila. Nenhuma chance' "


Laila tinha duas amigas, Giti e Hasina e um grande amigo, Tariq, o qual estava sempre com ela. Ela tinha também dois irmãos, Noor e Ahmad, os quais ela mal conhecia, pois há muitos anos eles tinham sido enviados como combatentes na guerra contra os soviéticos. Assim, a mãe de Laila se comportava como se só tivesse esses dois filhos, cujo retorno ela aguardava com muito prazer e fé. Na maior parte do tempo, Laila é que arrumava a casa e fazia as refeições junto com o pai. Num ou noutro dia, é que a sua mãe levantava-se e conversava um pouco.

Isso piora ainda mais quando eles recebem a notícia de que os dois tinham morrido em combate. A partir daí, a mãe de Laila passa a sentir várias dores e ter vários problemas, os quais são de ordem emocional e não física. Se antes, Laila era quase imperceptível aos olhos da mãe, agora ela passa a ser quase que totalmente invisível.

"Nunca deixaria sua marca no coração de mammy, como seus irmãos tinham deixado, porque aquele coração era uma espécie de praia desbotada, onde as pegadas da menina seriam sempre apagadas pelas ondas de tristeza que se erguiam e quebravam, se erguiam e se quebravam."


Em abril de 1992, quando Laila já tinha 14 anos, houve a rendição do presidente do Afeganistão, Najibullah, o qual, antes da presidência, havia sido chefe da KHAD, uma espécie de polícia secreta que ajudava os soviéticos. Ele nunca agradou o povo, pois queria passar uma imagem de bom homem, rezando numa mesquita, quando todos sabiam quantas pessoas tinham sido torturadas e mortas com sua autorização. Essa rendição representava a vitória pela qual os irmãos de Laila tinham lutado e morrido, portanto, essa notícia fez a mãe de Laila reviver, levantar-se, não vestir-se de preto, comemorar, enfim.

Entretanto, seis meses depois disso, o que se via no Afeganistão, especialmente na capital, Cabul, era guerra entre os próprios afegãos, para ver quem iria assumir o camando e quando Rabbani, antes do previsto foi eleito presidente, uma nova guerra se instalou no país, fazendo muitos fugirem e fazendo a mãe de Laila retornar ao quarto e novamente se fechar para o mundo.

A partir desses novos ataques vividos no Afeganistão, muitas pessoas começam a fugir do país e muitas mortes começam a acontecer. Enquanto o país vive essa guerra, Laila e Tarik se descobrem apaixanados e chegam a se entregar um ao outro, mesmo antes do advento do casamento. Porém, após esse momento, Tariq informa a Laila que pretende deixar o país junto com sua família como muitos outros estavam fazendo. Ele chama Laila para ir com eles, mas ela diz que não pode deixar a família, principalmente o pai.

Após a partida de Tariq, acontece o impossível para dificultar de vez a vida de Laila, a qual já estava bem difícil com a partida de seu amor. Quando finalmente a família de Laila decide fugir e estão se arrumando para isso, há um bombardeio que atinge a casa dela e a única sobrevivente é a própria Laila. Laila acorda, muito tempo depois, e se descobre na casa de seus vizinhos, Rashid e Mariam. Para permitir que Laila continuasse lá, Rashid, então, propõe que Laila se case com ele. Ela aceita o casamento, pois está grávida de Tariq e se torna a segunda esposa de Rashid aos 14 anos de idade.

Então, a partir daí, as duas últimas partes do livro vão contar como será a vida dessas duas mulheres sofridas, marcadas pela vivência em um país onde as mulheres não têm vez, que muitas vezes precisam usar burcas. Como será a convivência entre as duas? Como será a criação do filho de Tariq? Laila voltará a encontrar o seu amor? Ou será plenamente feliz com seu marido, Rashid? E Mariam conseguirá dar os filhos que Rashid gostaria de ter? Essas e outras perguntas serão respondidas paulatinamente à medida que se lê esse romance espetacular, cuja leitura é recomendadíssima, pois, além de termos uma história linda de amizade e cumplicidade, temos também uma verdadeira aula de História do Afeganistão, dada de maneira leve. Por esses e outros motivos, vale muito a pena gastar tempo para ler esse romance, do qual dificilmente nos esqueceremos.
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